O Crime do Domingos Amaro - Parte I

Amaro era um rapaz recém-licenciado em Medicina Veterinária em Trás-os-Montes. Andava a estagiar para os lados de Barcelos, quando, num belo dia soalheiro, foi chamado de urgência para assistir a um parto difícil de uma vaca leiteira de refugo, chamada Joaneira. Joaneira já tivera melhores dias, e nesse momento apresentava um aspecto deplorável, escanzelada, seca e decrépita.
Desse malfadado parto nasce Amélia (a bezerra…).
Amaro não consegue esconder o seu horror quando vê surgir, por entre o corrimento sanguinolento e fezes diarreicas, o seu focinho deformado. Amélia era freemartin. A mãe de Amélia teve um final infeliz. Devido à sua inexperiência Amaro cortou-lhe a sacra média e, para esconder o seu crime, meteu-a numa ceifeira debulhadora.
O veterinário não conseguiu reprimir o remorso e tomou Amélia em seus braços como se de uma filha se tratasse. Amaro deu-lhe a primeira mamada com tal dedicação e carinho que mais parecia fruto do seu próprio ventre.
Não conseguindo conter a excitação, regressa à exploração passado uns dias… para descobrir… com imenso desespero, que… Amélia fora vendida.
O caminho para casa nunca lhe parecera tão longo e não conseguia deixar de matutar e sentir os cascos de Amélia no seu pensamento. Amaro refugia-se no álcool (etílico) e no jogo. O casino da Póvoa tornou-se a sua primeira casa. Apesar de saber a razão do seu sofrer, esconde-o de si próprio, não se importando de ser mal visto pela sociedade.
Só não consegue suportar o pensamento de ser mal visto pelos grandes olhos bovinos (e cheios de moscas) de Amélia…

Fim da Parte I

Autores do post: Mariana, Helena e Obséquio